Célula - Parte 5

Stockstill (2000), diz que muitos pastores e ministérios chegam a ter náuseas quando ouvem a palavra célula na igreja, logo associam a “[...] fracassos, problemas financeiros, revolta de membros e divisão de igrejas”. Enquanto que outros estão empenhados “[...] ao máximo para implantar células, mas elas acabam dando em nada”. Para ele, há também os que associam os pequenos grupos a mais trabalho na igreja, “[...] enquanto os filhos ficam abandonados e o casamento entra em crise”, ressaltando que ninguém está imune a isso, mas que o medo excessivo é algo diabólico, para que não implementemos os pequenos grupos em nossas igrejas, pois se fosse algo ruim, certamente não teria sido adotada pelas maiores igrejas do planeta, comentando que as células “[...] constituem o meio mais poderoso de converter e discipular os povos do mundo”, e diz que:
Em todo novo empreendimento sempre existirá esse fator que é o desconhecido. E, no entanto o conceito de ministério em lares existe desde os tempos do Novo Testamento, e continua tão poderoso quanto antes. (2000, p.134).
Visando compartilhar os problemas enfrentados quando da implantação das células em sua igreja, Stockstill (2000, p.134-145 passim) lista sete situações potencialmente problemáticas que enfrentou, e vamos lista-las a seguir:
·         Orgulho espiritual – Sentimento e “[...] atitude elitista por parte dos membros e dirigentes das células”.
O orgulho espiritual é um perigo sempre presente e o diabo o estimula para causar divisão. A palavra “di-visão” significa ter “duas visões”, e, numa igreja que esteja passando por um período de transição, podemos ver claramente dois grupos de pessoas: as que já compreenderam o projeto e as que ainda não o aceitaram. (2000, p.135).
O resultado dessa postura competitiva fará com que os mais “antigos” sintam-se “forasteiros”, enquanto aqueles que estão na visão fazem o recrutamento, deturpando a visão, quando ficam ocupados em mudar as estruturas da igreja, quando na verdade, “[...] as células são, simplesmente, um contexto para amarmos, inspirarmos e restaurarmos vidas, e não um sistema usado para controlá-las”, pontua o Pastor Stockstill.
O pastor deve ser o motivador e o comunicador da visão do trabalho, porque ele sabe qual a cadência que todo o rebanho precisa adotar para se mover em conjunto. Algumas vezes exortei os membros de nossa igreja a se tornarem “amigos” uns dos outros, e não “conselheiros. (2000, p.135).
·         Administração inadequada das finanças – A estrutura celular é semelhante ao marketing multinível, estruturado em níveis e com cadastro de pessoas. Uma das primeiras atividades é criar o Ministério de Acolhimento – Muitas pessoas devem fazer parte dele, revezando semanalmente, este grupo é responsável por tornar a vida do visitante e do novo convertido mais agradável na igreja; gerenciar a agenda de contatos e passar para o pastor do Distrito fazer as ligações; Recepção da igreja; Abraçar os novos convertidos ou acompanha-los quando tomam a decisão; Pegar água, levar ao banheiro, etc.
Para evitar problemas futuros, o Pastor Stockstill proibiu transações econômicas nas células de sua igreja, criando um programa de assistência social para atender os necessitados. O Pastor Odilon Vergara de Curitiba colocou a meta de cada célula arrecadar 20 cestas básicas por mês, chegando a doar 3.000 cestas à comunidade;
Em toda a história da Igreja, sempre houve indivíduos ambiciosos e mal-intencionados que acham que “a piedade é fonte de lucro”. Pelo fato de a maioria das igrejas ter uma estrutura um tanto “difusa”, que dificulta o controle, é mais difícil identificar esses “predadores financeiros. (2000, p.136).
·         Negligenciar as crianças – Nas igrejas, geralmente, há a sala para as crianças, mas como cuidar delas nas células? Se os filhos são muito bagunceiros, há sérios riscos da família não querer levá-los na casa da irmã, farão muita bagunça! Para solucionar esse problema, semanalmente um casal fica encarregado desse cuidado, mas sempre as crianças tem a liberdade para escolher ficar com os pais, porém nunca devem ficar sem supervisão.
[...] instruímos os líderes a nunca permitirem que um rapaz cuide das crianças nas reuniões, [...] de repente, compreendemos que uma das melhores maneiras de estimular o crescimento dos grupos familiares seria reforçar o ministério com crianças. (2000, p.137).
·         Doutrinas e práticas distorcidas – Há o risco de pessoas aproveitarem o ambiente familiar para conquistar as ovelhas para si, e para evitar que isso ocorra, “[...] adotamos a norma de não permitir que ninguém ministre nas células sem uma aprovação prévia da equipe pastoral”. Evitando a prática de ensinos, palestras, vendas de livros e arquivos nas reuniões, tudo que fugir da programação, deve ser reportado pelo líder da célula. O tema tratado na célula é a Palavra pastoral do domingo, buscando entender e praticar;
·         Ignorar os problemas individuais – Esse problema não é criado pela estrutura dos pequenos grupos, mas é mais facilmente identificado nela. A informalidade dos pequenos grupos, o ambiente de apoio e ajuda, levam os membros a abrirem os corações, confessando condutas enraizadas, pecados ocultos, e a partir da confissão e abandono vem o perdão e a cura.
Temos visto casamentos sendo restaurados nas reuniões de células. Famílias inteiras estão achando soluções para problemas que nunca haviam aflorado antes em nossos cultos regulares, nem nas “conferências sobre vida em família”. Deus está operando verdadeiramente nos Estados Unidos. (2000, p.140).
·         Membros desviados ou esgotados – “[...] Além da confissão de pecados ocultos”, encontramos líderes desviados ou cansados. “[...] Nossa igreja agora está procurando cuidar bem dos líderes” evitando essa situação. “[...] Antes acreditávamos no mito de que, [...] a posição de liderança”, seja das células ou outra, envolveria as pessoas de tal forma “[...] no ministério que nunca desviariam”, mas estávamos enganados.
Na verdade, os líderes são os principais alvos de Satanás. Vemos isso claramente no trágico episódio do pecado de Davi com Bate-Seba. Instruímos nossos líderes sobre ética ministerial, aconselhando-os a nunca ficar sozinho com alguém do sexo oposto e a nunca fazer visitas desacompanhados. (2000, p.141).
Ainda segundo Stockstill (2000) é importante treinar a liderança em otimização do tempo, avaliação de prioridades e instruí-los a delegar tarefas. “[...] O mundo e até mesmo alguns cristãos escolhem o caminho que lhes garanta sossego”, vida tranquila, diversão, estabilidade financeira, viajar frequentemente. “[...] Outro caminho é o da cruz”. Seguir Jesus significa sacrifício, é “[...] negar a si mesmo”. Andar nos dois caminhos ao mesmo tempo é impossível, sem os valores corretos, a liderança tomará decisões erradas. “[...] Fazemos, então, reuniões de “confrontação” semanais com os dirigentes de célula” e toda liderança para mantê-los focados na missão.
·         Proselitismo – A evangelização dos cristãos de outras igrejas acontece, mas deve ser combatida, Stockstill (2000, p.144) afirma que desagrada os pastores da região e aos crentes de outras igrejas. “[...] Nossa igreja estipulou normas rígidas com relação a isso”. Para participar de nossas células a pessoa não pode ser de outra igreja, se for há necessidade de autorização de seu pastor. Essa não é a maneira correta de crescer, pois a Igreja de Cristo só cresce quando há batismo, então como norma, recomendamos aos “fujões” que voltem para sua igreja, “[...] porém, não podemos forçá-los”.
O Pastor Stockstill (2000, p144-145) destaca que os problemas enfrentados “[...] não se restringem apenas a esses sete”, mas que, tanto esses quanto outros, podem ser facilmente solucionados “[...] através de simples cuidado pastoral”. E que ao estruturar a igreja em células esse cuidado fica mais acessível a quem precisa e tira um sobre peso do pastor principal.
Nunca tivemos de lidar com rebelião, doutrinas erradas ou ainda êxodo de membros. Na verdade, o crescimento aumentou espantosamente, quando fechamos a “porta dos fundos”, pela qual os membros saíam aos montes, por falta de supervisão pastoral. (2000, p.145).
Se um agricultor ficar olhando para o céu, esperando o momento exato para semear, o medo de perder o investimento realizado nas sementes que jogará no solo, o empobrecerá. Semelhantemente, ao “[...] definirmos bem os temores e estivermos prontos para enfrentar os perigos, vamos nos preparar para a maior colheita de almas da história da humanidade” afirma o Pastor Stockstill (2000, p.145).
Para Carvalho (2010), há um caminho para o sucesso, inspirado nos métodos que Jesus Cristo utilizou com seus discípulos para prepará-los para a tão grande missão que os esperava: ganhar, consolidar, edificar, treinar e enviar. Stockstill (2000, p.94) diz que as palavras podem mudar dependendo da igreja, mas que “[...] o conceito, porém, são os mesmos: evangelizar, integrar, discipular e enviar”. Para uma transição eficiente do modelo de igreja tradicional para o modelo estruturado em pequenos grupos, entender esses cinco passos é fundamental, já que todos os discípulos são responsáveis pelo evangelismo das nações.
Carvalho (2010), diz que este é o primeiro passo, a “[...] experiência da salvação e um encontro real com Cristo”, não importam os meios, precisamos estar comprometidos em levar pessoas a Jesus. O pastor Larry Stockstill relata as experiências da Igreja Batista Bethany, da qual é o pastor principal, no evangelismo pessoal da época em que eram estruturados em departamentos e na estrutura em células. Um trabalho forte e grande, com teatro, programas de TV no horário nobre, visita de porta em porta, concertos, tudo para atrair os pecadores à igreja.
Contudo, infelizmente, viemos a constatar depois que faltava consistência. A cada campanha que fazíamos, eu tinha de me envolver e ficar “carregando” o trabalho nas costas. A congregação começava cada novo empreendimento muito entusiasmada. Com o passar do tempo, porém, ia perdendo o interesse e relaxando. (2000, p.59).
O Pastor Stockstill (2000) admite que “[...] não tinha o menor interesse em estabelecer a estrutura de células” em sua igreja, mas mudou de ideia ao conhecer a ênfase evangelística dessa estrutura e resolveu adotar em sua igreja, com a configuração adaptada aos moldes de cultura americana.
Na primeira semana de cada mês, as reuniões de “planejamento e edificação” são voltadas para atender às necessidades dos membros: intercessão e batalha espiritual, busca dos dons do Espírito e estudos bíblicos para amadurecimento espiritual. Na semana seguinte, o tema do encontro é escolhido de acordo com alguns assuntos que acharmos necessários abordar (divórcio, solidão, depressão, educação e criação de filhos, etc.). Aí então os membros das células convidam amigos não crentes que estejam precisando ouvir essas mensagens. (2000, p.60).
A igreja Batista Bethany, segundo Stockstill (2000) teve mais de 5.000 conversões em quatro anos realizando esse tipo de evangelismo, direcionando a “[...] estratégia evangelística básica para os pequenos grupos”. Estabelecendo quatro princípios básicos para o evangelismo nas células.
Analisando as maiores igrejas estruturadas em células do mundo, descobri que todas apresentam quatro princípios básicos de evangelismo: propósito, trabalho em grupo, oração e invasão. Cada participante das células deve ser constantemente relembrado desses quatro princípios para que se mantenham ativos na pregação do evangelho, evitando que o trabalho esmoreça. (2000, p.62).
Outro ponto importante para esse Pastor no evangelismo é copiado de Jesus Cristo, quando enviou os seus discípulos, nunca sozinhos, pois segundo ele a “[...] força não está necessariamente em minha própria capacidade, mas naqueles que estão ao meu lado”, destacando que ninguém faz nada sozinho e que “[...] cumpro melhor o meu propósito se pertencer a um grupo”. Salientando que a célula deve ser um lugar de fazer amigos com base nos princípios bíblicos, levando os não crentes a perceberem que ser cristão também é legal, que somos pessoas normais, alegres e amigas. Afirmando que “[...] os descrentes, então, desfrutam de um ambiente acolhedor, entre gente séria, onde podem conversar sobre seus problemas mais profundos e receber orientação com amor”.
Os cristãos têm mais coragem de convidar um não salvo para ir à casa de alguém do que para ir a uma igreja. Assim que os membros das células desenvolvem um senso de comunidade, instintivamente, passam a confiar uns nos outros. Sentem que podem, juntos, levar a Jesus os seus entes queridos, os colegas de trabalho e os vizinhos. (STOCKSTILL, 2000, p.66).
 Eles, simplesmente, convidam as pessoas para ir à casa de um amigo, que com descontração, respeito e, por vezes, um lanche, debatem em grupo, sobre temas pertinentes e de interesse do convidado, “[...] além disso, alguns cristãos, que antes eram infrequentes e infrutuosos, passaram, de repente, a se mostrar constantemente motivados”, afirma Stockstill (2000, p.67).
Em pesquisa realizada pela Universidade do Vale do Itajaí, sobre o Congresso Missionário dos Gideões da Última Hora, em Camburiú/SC, um dos maiores do mundo, Paganella (2014, p.80-82) constatou que dos 170 mil participantes do evento, apenas 12% estava lá pela primeira vez, enquanto que 26% estiveram no evento todos os 32 anos, outros 26% em mais de 11 vezes. A conclusão que podemos chegar, é que há pouquíssimos não cristãos nesses eventos chamados missionários. Caso esses 12% fossem não cristãos, o que não foi perguntado, e todos aceitassem ao Senhor Jesus Cristo, o que não acontece; em 2 anos, segundo nos alerta Stockstill (2000, p.58-59), que “[...] apenas de 2 a 5% desses novos convertidos, em média”, se manteriam na igreja, enquanto que aqueles que aceitam o Cristo em um grupo familiar tem 75% de chances de continuar crentes após esses mesmos 2 anos.
Em cada uma dessas igrejas nas casas, os membros são estimulados a se tornarem líderes. E eles, então, vão começar a ganhar pessoas para Jesus e discipular essas pessoas. [...] quando o líder daquele grupo de evangelismo se tornou qualificado, é que fazemos a conversão do grupo de evangelismo em célula. (HUBER, 2011, p.61)
Para Bezerra (1998), “[...] a verdadeira evangelização não se baseia no último método ou tecnologia de multiplicação, mas num estilo de vida dirigido pelo Espírito Santo”, uma caminhada que manifesta o amor em atitudes e não apenas em palavras. Para ele, devemos continuar firmes em nossos fundamentos bíblicos, mas abertos para ganhar almas para o Reino de Deus. Jesus foi muito criticado e perseguido por visitar pobres, perdoar pecados, conversar com prostitutas e fazer refeições com publicanos e pecadores, algo que os religiosos não estavam dispostos a fazer, agora é a nossa vez de revolucionar o evangelismo do século XXl, saindo de nossa “zona de conforto”, que segundo White (2008, p.2) nada mais é do que uma série de pensamentos, ações e comportamentos que estamos habituados a utilizar, sem causar medo, ansiedade ou riscos. Alcançando desempenho constante, porém limitado, cooperando com o que disse Stockstill sobre o evangelismo praticado e o desejado.
O segredo para o evangelismo, disse o pregador, é entrar no “barco” de alguém e “assentar-se”. [...] O modo tradicional de evangelizar consiste, basicamente, em convidar pessoas para que venham ao nosso “barco”. O evangelismo nas células, porém, consiste em descobrir as necessidades e interesses do não crente e entrar no “mundo” dele. (2000, p.73).  
A Igreja que o Senhor Jesus fundou em Mateus 16.18, ao dizer que “[...] sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, deve ir e “[...] ensinar todas as nações”, o Mestre não estava falando de meia dúzia de pessoas, mas de todas as pessoas. Para Barros Filho o problema é permanecer fazendo o que dava certo, mesmo quando não está mais funcionando, criando um distanciamento das necessidades.
O risco é de permanecer, e permanecer acreditando ser, num mundo que deixa de ser a cada segundo, é proporcionar pra si condições de um distanciamento progressivo da realidade, e, portanto, de uma desvalorização inapelável de si mesmo pelo mundo social (BARROS FILHO, 2018).
O Apóstolo Paulo nos ensina como evangelizar as nações e fazer discípulos, nos dando o exemplo de que devemos nos esforçar e fazer o que for necessário, “por todos os meios” pela causa do evangelho.
Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos, para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns. E eu faço isso por causa do evangelho, para ser também participante dele. (1 Coríntios 9.19-23).
Esse que é, ainda hoje, um dos homens mais influentes do cristianismo, não media esforços para levar salvação a todos os povos. E levar salvação não é o mesmo que levar a pessoa à uma decisão por Cristo, mas levá-la a ter o caráter de Cristo. Para Huber, a mesma fé e energia que foram investidas para levar o indivíduo a uma decisão por Cristo, devem ser utilizadas após a decisão.
Tenho visto que as igrejas em geral, por onde eu viajo, têm o costume de fazer um apelo após a pregação no domingo. Alguém entrega a vida para Jesus, Aleluia! Mas depois, todo mundo descansa. Ora, foi feito um trabalho para levar a pessoa a tomar uma decisão pelo Senhor, mas não existe a mesma concentração de fé e preocupação de integrar aquela pessoa no momento seguinte. (2010, p.77).
O segundo estágio que a liderança cristã precisa implementar na igreja, para Carvalho (2010), é a integração do novo membro ao grupo. Imaginemos um recém-nascido, abandonado no caminho minutos após vir à luz, o que seria dele? Até as formigas, um dos menores predadores que existe, seria capaz de matá-lo. Segundo Huber (2011, p.88) os novos convertidos dão bastante trabalho, como bebês recém-nascidos, mas a igreja deve desenvolver mecanismos e processos para que cuide deles, com amor, imitando Jesus e não perdendo nenhum, ou seja, temos que “[...] fechar a porta dos fundos”, como disse Stockstill (2000, p.145). Para ter sucesso nesse cuidado, Carvalho (2010, p.142) afirma que é crucial “[...] que dentro de 24 horas” um líder experiente faça “[...] uma primeira visita ou contato por telefone, parabenizando o novo convertido por sua decisão de seguir Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal”, e ainda que “[...] dentro de 72 horas” um discipulador deve ser designado para cuidar do novo membro. Jesus disse em oração, algo que fazia pelos seus discípulos, e que precisamos fazer pelos nossos, “[...] estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu”. João 17.12a.
Para Huber, discipular é cuidar, e esse cuidado só passou a acontecer na Igreja da Paz, da qual é o Pastor, quando, em 1999, a liderança eclesiástica criou as microcélulas, formadas por duas pessoas, o discipulador e o discípulo, que conta com a participação de todos os crentes de sua igreja, inclusive o próprio Abe Huber também é discípulo. As microcélulas ou discipulado uma a um, são tão importantes na Igreja da Paz, que somente na congregação central em Santarém/PA, todas as semanas acontecem mais de 29.000 reuniões dessa natureza.
Há vários mandamentos na Bíblia, mas se a pessoa estiver inclusa no discipulado um a um, ela estará cumprindo todos os mandamentos. Por exemplo: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus”; se ela estiver inclusa no discipulado, ela estará buscando em primeiro lugar o Reino de Deus. Jesus disse: “Eu edificarei minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”; e a pessoa estará edificando a igreja se estiver praticando o discipulado um a um. (2011, p.59).
O discipulador ficará encarregado de integrar o novo convertido em uma de suas células, geralmente a que fica mais perto do recém-chegado, e aos domingos continuar com o trabalho no culto de celebração, “[...] esse processo assegura que o novo membro estabeleça afinidade dentro da igreja local e sinta que encontrou um lugar ao qual pertencer”. Na primeira oportunidade possível, o novo convertido é convidado a participar de um retiro espiritual, um fim de semana especialmente preparado pela liderança para buscar e conhecer Deus, “[...] logo vem o Batismo nas Águas e o Batismo no Espírito Santo”, capacitando-o para também anunciar o evangelho, vaticina Carvalho (2010).
Edificar, segundo Boyer (2014) é construir, instituir, instruir. Para Carvalho (2010) a edificação espiritual é necessária mesmo que o novo cristão tenha sido batizado nas águas e no Espírito Santo, “[...] isso não resolve definitivamente a sua vida e o seu caráter cristão, por isso o processo precisa ser continuado”, precisa ser desenvolvido o seu potencial de liderança, de vida cristã exemplar, comunhão com Deus e com os outros humanos, perdão, vida moral e cívica na família e na comunidade, “[...] compromisso com uma vida de oração pessoal e coletiva; compromisso com a Grande Comissão (especialmente o de ganhar a sua família para Jesus)”; fidelidade nos dízimos e ofertas, casamento em ordem, entender e viver como alguém que foi chamado para imitar Jesus Cristo em tudo, “[...] não diz respeito à sua preparação técnica e prática no serviço, mas na formação de um caráter refinado” pelo Espírito Santo.
A edificação visa ao desenvolvimento das manifestações do fruto do Espírito Santo na vida do novo seguidor de Jesus. Seu testemunho pessoal é muito mais importante do que as suas realizações, visto que as pessoas não podem ouvir nossas palavras sem que antes vejam em nós um exemplo a ser seguido. (2010, p.144).
Huber (2010), diz que “[...] não se pode edificar as paredes de uma casa sem antes colocar os alicerces”. Pensar que as pessoas serão transformadas simplesmente porque levantaram as mãos em um culto, é inocência demais ou negligência com o rebanho do Senhor. Após aceitarem a Cristo e serem integradas à igreja local, elas precisam ser construídas, tijolo a tijolo, como templos, para a habitação do Próprio Deus. A igreja precisa investir na vida das pessoas, não dá para ficar depositando gente nos bancos da congregação achando que estão sendo edificadas, não é isso que a Bíblia diz. O cristão deve ser construído sobre a Rocha, o nosso alicerce é o Evangelho de Cristo. Para Piaget, psicólogo e estudioso do aprendizado e desenvolvimento humano, o conhecimento se constrói igual construímos um prédio. Não adianta descarregar os tijolos, cimento, areia, brita e ferragens no canteiro de obras, tem que ter pessoas capacitadas para planejar a obra, gente para cortar e amarrar o ferro, misturar a massa, carregar os tijolos, esticar linhas, carregar o concreto, enfim, prédios não se levantam sozinhos.
[...] o desenvolvimento mental é uma construção contínua, comparável à edificação de um grande prédio que, à medida que se acrescenta algo, ficará mais sólido [...] Cada estágio é caracterizado pela aparição de estruturas originais, cuja construção o distingue dos estágios anteriores. O essencial dessas construções sucessivas permanece no decorrer dos estágios ulteriores, como subestruturas, sobre as quais se edificam as novas características. (PIAGET, 1969, p.12).
Uma das tarefas do ministério citado por Paulo em Efésios 4.12-13 é a “[...] edificação do corpo de Cristo” incessantemente, até que haja unidade da fé e “[...] do conhecimento do Filho de Deus”.
Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito. (Efésios 2.19-22).
Ao preparar a Bíblia de Estudo Pentecostal, o Pr. Stamps escreveu o seguinte comentário sobre as ordenanças de Jesus, aos discípulos contidas em Mateus 28.19, disse ele:
IDE... ENSINAI... BATIZANDO. Estas palavras [...] declaram o alvo, a responsabilidade e a outorga da tarefa missionária da igreja. A igreja deve ir a todo o mundo e pregar o evangelho a todos [...] o propósito da Grande Comissão é fazer discípulos que observarão os mandamentos de Cristo. Este é o único imperativo direto no texto original desse versículo. A intenção de Cristo não é que o evangelismo e o testemunho missionário resultem apenas em decisões de conversão. As energias espirituais não devem ser concentradas meramente em aumentar o número de membros da igreja, mas, sim, em fazer discípulos que se separam do mundo, que observam os mandamentos de Cristo e que o seguem de todo o coração, mente e vontade. (1995, p. 1452).
O alvo e a responsabilidade da igreja estão explícitos: fazer discípulos. E “fazer” um discípulo não é uma produção em série, industrializada, mas algo parecido com o artesanato, serviço de carpinteiro, cada peça é única e cada discípulo é especial. Stamps afirma que “[...] este é o único imperativo direto no original”, Jesus não deu uma opção de fazer discípulos aos seus seguidores, mas estava exigindo que sua Igreja não medisse esforços para fazê-los, de outra maneira não alcançaria todos os povos.
Quando o discípulo chega nesse estágio de formação, Carvalho afirma que ele está em “[...] um nível mais alto de comprometimento com a visão da igreja local”, e que todos aqueles que desejam chegar à liderança “[...] devem cumprir certo currículo” de formação ministerial. Logo que possível, inclusive para o seu aprendizado, “[...] deve discipular pelo menos duas pessoas do mesmo sexo”, estar sendo treinado na célula e exercer tarefas, que visem desenvolver seu potencial de liderança. Dessa maneira, o conhecimento teórico se alia à prática, mas para liderar uma célula, o discipulador e o líder de sua célula devem concordar que está pronto para a tarefa.
A maior necessidade do inconverso é a pregação ungida, das boas-novas de salvação. A maior necessidade dos crentes é o sagrado ensino da Palavra, no poder e unção do Espírito. O plano de Deus é que todos os homens se salvem, e cheguem ao pleno conhecimento da verdade, e não ao contrário disso. (SILVA, 1998, p.16).
A motivação da equipe é de extrema importância, ainda que seja necessário chamar palestrantes, fazer retiros, premiar os que se destacam, enfim, fazer tudo que for ético e cristão para mantê-los motivados e sedentos pelos novos conhecimentos. Mednick afirma que é dever do líder, manter a equipe motivada a aprender e se desenvolver.
A motivação sem aprendizagem redundará, simplesmente, numa atividade às cegas; aprendizagem sem motivação resultará, meramente, em inatividade, como o sono. [...] Após uma longa caminhada sob o calor do sol, começamos a sentir secura na garganta e na boca; a essas sensações chamamos sede. Quando as experimentamos, procuramos algo de beber. A nossa procura demonstra, uma vez mais, a propriedade dinamizadora dos motivos. (1969, p. 22).
Para Stockstill (2000) o treinamento dos potenciais líderes deve começar pelas oportunidades “[...] para as pessoas usarem seus talentos e desenvolverem sua capacidade”. E que a segurança de grupos pequenos tem o poder de fazer os mais tímidos se expressarem, pois “[...] os dons espirituais nos são entregues para que os usemos, e não para ficarmos conversando a respeito deles”, sanciona.
Na maioria das igrejas americanas, o máximo que os membros fazem é olhar para a nuca de quem está sentado à sua frente. Essa falta de envolvimento produz nos crentes tanta apatia e estagnação, que se recusam a assumir qualquer responsabilidade na igreja. Em uma célula, porém, cada membro tem uma função e um dom. (STOCKSTILL, 2000, p.90).
Dessa maneira as células não são apenas um bom lugar para rever os amigos e aprender de Jesus, mas uma ótima oportunidade de preparar novos líderes, que abrirão novas células, e alcançarão mais pessoas, criando um círculo virtuoso no corpo de Cristo. Stockstill (2000, p.92) destaca que “[...] todas as aulas, exercícios e relacionamentos que acontecem em nossa igreja tem por objetivo levar os membros” a quatro níveis de treinamento para a liderança, que são:
·         Pregar: Ao identificar um líder em potencial, devemos treiná-lo e desenvolver suas habilidades para pregar o evangelho, ajudando os que necessitam de ajuda para vencer a timidez, pois “[...] o evangelismo em sua forma mais simples vem do desejo de ganhar almas para Cristo”. Nas reuniões de células, todos são incentivados a trazer não crentes.
·         Pastorear: No nível pastoral “[...] nós o ensinamos a “integrar” um novo convertido à vida da igreja”, levando-o em visitas nas casas desses recém-nascidos, dando-lhes a oportunidade de ministrar “[...] breves estudos sobre arrependimento genuíno, batismo nas águas, e outras doutrinas básicas do evangelho”, tudo na intenção de desenvolver o seu potencial de cuidar de pessoas.
·         Ensinar: No terceiro nível, os líderes serão instruídos “[...] acerca das disciplinas espirituais da oração, do jejum, e da leitura da palavra”, incluindo novamente “[...] os valores cristãos fundamentais, as doutrinas básicas do evangelho, e as técnicas para compreender a personalidade humana”. Abordamos o aconselhamento cristão e “princípios de produtividade”, perigos na caminhada e trabalhamos a “integridade pessoal”. Também ministramos sobre “as qualidades da liderança” e logo lhes desafiamos a colocá-las em prática, outro ponto muito importante que abordamos nessa fase é “[...] a instruir outros nas disciplinas pessoais do discipulado”.
·         Criar: Agora o nosso discípulo está capacitado para formar novos discípulos, pois foi exatamente isso que Jesus fez, preparou seus discípulos a ponto de poderem fazer novos discípulos. Quando os cristãos estiverem preparados para “[...] pregar, pastorear e formar outros líderes, estarão prontos para dar início a uma nova célula ou levar outros a fazê-lo”.
Stockstill destaca oito pontos importantes que devemos desenvolver em nossos líderes e liderados, que são:
Senso de propósito – porque a raiz de toda a motivação está no propósito [...] Prioridades – um plano de oração bem como horários para jejum semanal, mensal e anual [...] Procedimentos – é importante que os dirigentes dos grupos sigam as determinações que o pastor titular e sua equipe tenham estabelecido [...] Personalidades – Compreendendo esses tipos básicos de personalidade, os líderes se acham bem mais preparados, não apenas para controlar a dinâmica da reunião, mas para atuar também no seu relacionamento familiar e no trabalho [...] Solução de problemas – eles não oferecem um aconselhamento muito “aprofundado”, mas constituem o primeiro nível na escala de tratamento, uma espécie de “primeiros socorros” para o corpo de Cristo [...] Fazer discípulos – os dirigentes de células devem ser motivados a preparar outros para se tornarem líderes também [...] Princípios – nossa vida deve ser baseada em princípios, e não em pessoas. Os líderes devem possuir os valores básicos como senso de compromisso, honestidade, pureza e um convívio familiar sadio [...] Produtividade – os princípios de se estabelecerem metas de curto e longo prazo, da motivação pessoal, da capacidade de incentivar, da comunicação correta (bem como evitar os erros de comunicação), da delegação de responsabilidades (a administração de grupo e as tarefas individuais) e do princípio da recompensa. Compreendendo bem esses pontos, os líderes têm maior chance de se colocarem um passo à frente de seus liderados e alcançar os alvos de ganhar almas e formar outros líderes. (2000, p.94-99 passim). 
Esse momento, para Carvalho (2010, p.147), é hora de cumprir o “ide” de Cristo, e se os passos anteriores tiverem sido realizados com sucesso pela igreja, para o “[...] novo líder é a sua liberação para liderar uma célula”, uma congregação ou abrir um campo de evangelismo, então o corpo de Cristo cresce. Para o caso das igrejas em células, este é o momento de multiplicar a célula original, mas o discipulado continua sendo realizado e aprofundado.  
Um líder de célula tem um grande desafio para multiplicar suas células e se tornar um Supervisor de Setor, Área, Distrito, Região, e poder se tornar um pastor de tempo integral na obra do Senhor Jesus Cristo. Não há limites para tudo o que Deus pode fazer através de pessoas cujo coração é totalmente Dele. (2010, p.147).
A partir desse ponto, com um sistema de treinamento de liderança funcionando com eficiência, Stockstill (2000, p.108) afirma que fica mais fácil para a igreja “[...] estabelecer alvos para a multiplicação em um ano”, quando falamos de células biológicas e vivas não existe a palavra somar, dividir, subtrair, enquanto vivas as células orgânicas só conhecem as palavras crescer e multiplicar, e é exatamente essa postura que a liderança eclesiástica precisa inserir no corpo de Cristo, um organismo vivo feito para chegar a todas as pessoas.
Se desejarmos criar cinquenta células nos próximos doze meses, é necessário que tenhamos, no mínimo, esse mesmo número de pessoas na “segunda base” ou nas posteriores. Para alcançarmos os objetivos, precisamos começar a agir. (2000, p.108).
O profeta Isaías ouviu “[...] a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” (Is 6.8). O Apóstolo Paulo exortou os irmãos de Roma a enviar pregadores ao mundo, dizendo: “[...] como pregarão, se não forem enviados?” (Rm 10.15). Pessoas no mundo todo estão sendo destruídas pelo nosso adversário, porque estamos falhando em preparar e enviar arautos do evangelho.
“Pregar, pastorear, preparar e formar células” é um processo bem ajustado que garante o sucesso desse trabalho árduo que é pregar a Palavra e preparar discípulos. [...] Quem resolver estabelecer o processo de discipulado pode ter certeza de que Deus será fiel e lhe dará a colheita. [...] O fruto desse trabalho são líderes preciosos de ambos os sexos, de todas as raças, idades e denominações. (STOCKSTILL, 2000, p.109)
Carvalho (2010), afirma que quando a Igreja da Paz iniciou a transição para os pequenos grupos em 1993, foram criados de 10 a 12 grupos familiares, e que em sete anos a igreja saiu de um rebanho de 400 pessoas para 8.000 membros. Atualmente conta com aproximadamente 55.000 membros, em uma cidade de aproximadamente 200.000 habitantes.
Quaisquer mudanças enfrentarão resistência, Stockstill (2000, p.122) afirma que 71% das pessoas gostam de “[...] calçar os mesmos chinelos, manter-se no mesmo emprego, ter os mesmos líderes, fazer sempre o mesmo pedido” em seu restaurante favorito, ocupam sempre os mesmos lugares na escola, faculdade e até no estacionamento, e que devemos nos preocupar especialmente com elas, se realmente desejamos fazer a transição para o modelo celular.
“Portanto os pastores devem agir com muito cuidado ao “mexer” com esses “roteiros” preestabelecidos que, provavelmente, 71% dos membros de sua igreja têm. É preciso que aprendam a alterar o “passo” e fazer a transição sem causar “estragos””. (STOCKSTILL, 2000, p.122).
Quando a igreja decidir fazer a mudança, o primeiro passo é criar a “célula matriz”, aquela que é responsável por transmitir a “[...] essência da nossa herança genética”, segundo Moggi (2001, p.42), e para quem “[...] o modelo celular é intuitivo, foge do paradigma da pirâmide hierárquica para fluxos de energia e traz uma imagem dinâmica dos processos que ocorrem”, destacando que não existe receita de bolo, mas que por ser viva, a célula vai se adaptando ao meio.
Para Huber (2011, p.49), há dois tipos de igrejas que trabalham com pequenos grupos, uma é a igreja com todos os seus departamentos onde os grupos são apenas “[...] mais um dos ministérios”, e nesse modelo, as células não são a prioridade da igreja, e precisam competir por espaço, tempo e recursos, a que chama de “igreja com células”. O outro modelo de igreja apresentado por Huber é a “igreja em células”, onde todos os ministérios eclesiásticos emanam dos pequenos grupos.
E assim – já que o maior inimigo do excelente não é o ruim, mas o bom – ele ocupa os discípulos com um ativismo, com tantos ministérios, que eles ficam sem tempo de ganhar almas para cuidar de vidas. É que eles estão ocupados com os ministérios. Eis o grande desafio de uma igreja local que quer funcionar nos moldes bíblicos: ela não pode acabar com os ministérios, mas ela tem que saber direcionar seus ministérios para ajudar e para abençoar a igreja na casa. Os ministérios que tem competido com a igreja nas casas, sugando a energia de seus membros de modo que eles não se dediquem à igreja na casa, têm que ser redirecionados, ou é melhor que acabem. (2011, p.56).
Quando decidiu que sua igreja trabalharia com pequenos grupos, Stockstill (2000, p.19), começou estruturando suas células apenas para os novos convertidos, deixando “[...] bem claro que, se alguém não quisesse participar de uma célula, não seria considerado menos importante que os outros”. Em seguida o pastor montou os “gabinetes distritais” em sua igreja, dividindo a região no entorno da igreja em distritos, onde fundaram células. Sempre que alguém aceitava a Jesus o “Centro de Contatos” o direcionava ao “pastor distrital” de acordo com o local onde reside, mas podendo escolher participar de outro grupo, se desejasse, tudo para que recebesse acompanhamento.
Compreendi que, tendo por fundamento esse ideal de gerar vida, a célula não corre o risco de contrair uma “doença” peculiar aos grupos, que os pastores norte-americanos, brincando, denominam “coinonite” (síndrome do crescimento para dentro). (STOCKSTILL, 2000, p.22).
Algo semelhante ao que o Pastor Odilon Vergara relatou em sua palestra, na Conferência do Modelo do Discipulado Apostólico em Santarém/PA em 2016, sobre sua igreja, que começou com uma célula, então foi “dividindo” e em dez anos chegaram a doze, algumas delas com mais de noventa pessoas. Porém, com o discipulado do Pastor Abe Huber, em um ano chegaram a 50 células, logo foram a cem, e hoje estão com mais de 40 igrejas em vários países do mundo. O que podemos observar é que sofriam de “coinonite”. Ainda assim, para ele, a igreja é um dos lugares mais difíceis de fazer mudanças e que “[...] confundem estruturas com pessoas”, e temos que mudar a estrutura mantendo as pessoas.
Se você fizer a mesma coisa você sempre terá o mesmo resultado [...] nossa igreja era pequena, tinham vinte e cinco pessoas [...] e era o meu sonho ser o pastor de muitas pessoas, então eu tenho que mudar algumas coisas na igreja se eu quero um resultado diferente. (VERGARA, 2016).
4.1   Visão          
A primeira coisa que um pastor precisa ter para iniciar a mudança, segundo Vergara (2016), deve ser uma “visão” muito clara do que Deus tem para a igreja. Ele cita a visão de sua igreja: “Amar a Deus e servir as pessoas”.
Quando você vai pegar um ônibus, aquele letreiro ali na frente, aquilo ali é “visão”, ou seja, está dizendo para onde aquele ônibus vai. As pessoas não pegam ônibus que não tem “visão”, que não diz para onde vai. Assim é a igreja também, muita gente não embarca em seu ministério se você não disser para eles pra onde você vai estar em Cristo, pra eles é “visão. (VERGARA, 2016).
Há necessidade de decidir em Deus a sua “visão” para sua vida, seu ministério, sua igreja, sua cidade e assim por diante. Após “receber a visão” e tê-la clara, você precisa desenvolver a cultura do Reino de Deus, havendo coerência entre aquilo que é pregado na igreja com o seu estilo de vida.
Stockstill (2000, p.121) disse que “[...] todo progresso requer mudanças, e apresenta transições e estágios”, e para realizar as mudanças que desejava em sua igreja, precisou entender melhor algumas coisas sem as quais não conseguiria. A credibilidade do líder é uma das principais variantes do processo, sem ela haverão muitas baixas no rebanho, deve haver uma “[...] flexibilidade aliada à prática da prestação de contas”; Liderança eficiente é “[...] decisivo para o sucesso de qualquer transição [...] se o fundamento estiver errado, qualquer tentativa de mudança na estrutura e nas diretrizes será difícil”; Nada disso será realizado se não houver alegria, para ele, é “uma característica importante” em uma “[...] igreja transformadora de vidas”, seus membros riem e se divertirem não é uma obrigação, mas algo natural e que deve ser incentivado, inclusive, diz ele, “[...] instruí todos os pastores de minha equipe a se policiarem, procurando sempre manter a alegria do Senhor em tudo o que fizerem”, trabalhar para Deus é um privilégio, quando vamos à igreja a última coisa que queremos ver é “[...] um pastor emburrado e triste”, do púlpito deve fluir alegria e otimismo, “[...] o pastor deve se regozijar com os envolvidos nesse ministério”; O sucesso faz mais sucesso, na hora de fazer a transição em sua igreja, começa pequeno e com uma base confiável, “[...] sempre é bom começar com grupos que tenham mais probabilidade de permanecer”, forme sua “célula matriz” com pessoas que ame oração, habilidosas nos relacionamentos pessoais e que estejam comprometidas com a “visão”. Para ele, “[...] a “visão” é a embreagem que permite que a credibilidade, flexibilidade, prestação de contas, alegria, sucesso e amor proporcionem a qualquer igreja uma transição suave da situação em que ela se encontra para a que se deseja”, e que escolher anciãos e diáconos para liderar os grupos foi um erro, que ele cometeu, mas que devemos deixá-los a vontade para se encaixarem na nova estrutura, pontuando que “[...] para que a transição ocorra de maneira apropriada, devemos começar com um punhado de líderes que já tenham sidos aprovados “espiritualmente” e em quem confiemos plenamente”, lembrando que líderes extrovertidos tem mais facilidade de criar aderências a atrair pessoas para seus grupos, geralmente cheios. Um ingrediente importante para quem deseja trabalhar com igrejas nos lares é a paciência, nem sempre as coisas acontecem na hora programada, e não há nada melhor para saber o que acontece em uma célula do que liderando uma, recomendando “[...] que todo pastor lidere uma célula durante alguns meses”. Por último, mas não menos importante, esse pioneiro americano, diz que é de extrema importância que o pastor tenha a “[...] habilidade de comunicar a visão a uma equipe e incentivá-la a trabalhar com entusiasmo e motivação em busca de um alvo comum”. O pastor incentiva todos a conhecerem-se melhor, estudar os perfis de personalidades humanas, isso facilitará a comunicação e a liderança.
O Pastor Vergara diz que após ter a “visão” bem clara e nítida para ser comunicada à igreja e disposição para morrer por ela, se for necessário, precisaremos de uma estrutura, então compara a igreja com uma garrafa de água que lhe serviram durante a conferência: “[...] o conteúdo é a água e a estrutura é a garrafa. Qual dos dois é mais importante? Os dois. [...] A estrutura existe para valorizar o conteúdo.” No entanto a estrutura pode ser substituída, enquanto que o conteúdo não, continua ele, a água pode ser servida em um copo, num pote e até na mão, o que não podemos é ficar desidratados.
Huber reforça as palavras de Vergara, citando que Jesus nos alertou sobre o descuido de colocar “[...] vinho novo em odres velhos” (Mc 2.22).
Quando isso acontece, mais cedo ou mais tarde elas vão estourar. E o pior disso tudo não são as estruturas velhas que estão por aí, que tem se rachado, que tem tido problemas; o pior é o tanto de vinho novo que já foi desperdiçado por causa de estruturas que foram despedaçadas. (HUBER, 2011, p.52).
Com uma “visão” refinada pelo Espírito Santo e muitas orações com todas as lideranças da igreja, é chegada a hora de sair da estrutura de cultos feitos para os crentes e iniciar um trabalho de formação de discípulos comprometidos com a salvação de almas e cuidado das pessoas. Para Carvalho (2010, p.161-170 passim), “[...] essa mudança de estrutura” referida por Huber “[...] representa o fim do ministério do exclusivismo”, fazendo com que todo o corpo de Cristo trabalhe em favor do Reino de Deus e não apenas o pastor, e cita as responsabilidade de cada um, em uma igreja estruturada de pequenos grupos.
·         Membro da célula – Devem orar pela liderança, agir e ser discípulos, ser fiel nas reuniões, nos dízimos e ofertas; trazer pessoas para a célula cooperando para a multiplicação da célula.
·         Anfitrião de célula – Ao enviar os setenta discípulos em Lucas 10, Jesus diz à eles que fiquem em uma mesma casa, quando as pessoas são receptivas ao evangelho; Paulo aplicava esse mesmo princípio nas igrejas dos gentios, chegando a mencioná-las em suas cartas. “[...] A célula tem um local, dia e hora fixos para se reunir semanalmente”. O anfitrião é aquele que abre as portas de sua casa e recebe bem os convidados, vizinhos, irmãos, uma pessoa que está comprometida com Jesus, e deve ser escolhido a dedo, pois “[...] é um testemunho vivo da visão de célula entre os membros, visitantes, e vizinhança”. Ser fiel nos treinamentos de liderança e cultos de celebração.
·         Líder de célula – Essa pessoa é a interface entre o pastor titular e os novos membros, e tem a responsabilidade de colocar em prática as táticas desenvolvidas pelos líderes da igreja. Deve ter uma vida de oração e pastoreia cada membro de sua célula, discipula entre três a cinco membros, também deve treinar seus auxiliares e atender as necessidades de seu grupo (espiritual e social). Faz visitas aos que assistem as reuniões da célula, garante o comparecimento da equipe nos treinamentos de liderança, estimula pessoas ao batismo, incentiva e cria grupos de evangelização, por fim preenche e entrega no prazo o relatório semanal de seu grupo. Deve ser fiel no discipulado semanal, nos treinamentos de liderança, cultos de celebração e comprometido em formar novos líderes.
Quando você é designado para um cargo de liderança, seus ouvidos tornam-se ainda mais essenciais para o sucesso, porque percebem o que está acontecendo ao seu redor. Seus ouvidos lhe capacitam a entender as razões e as necessidades das outras pessoas. Aumentam seu aprendizado, tornando-o mais competente e eficaz. Ganham o respeito e desenvolvem a autoestima de seus seguidores que valorizam sua atenção. Ajudam você a descobrir em si mesmo o tipo de líder de que as pessoas precisam. (GONÇALVES, 2008, p.25).
·         Supervisor de setor – Ao iniciar uma reunião na casa, o pastor titular deve indicar o líder. Logo essa célula vai se multiplicar e esse líder deve sair do grupo, e assim por diante, cada célula forma seus líderes antes de multiplicar. Quando o líder chega a quatro células, passa a ser supervisor de setor, até formar as quatro células é chamado de líder-supervisor. Chegará um momento, determinado pelo pastor titular, que esse líder não terá mais uma célula para chamar de sua, pois estará supervisionando as células e treinando novos líderes.
É responsável por liderar a reunião de setor, semanalmente. Pastorear e supervisionar as células do seu setor, discipular e treinar seus líderes de célula, garantir, através da supervisão, o padrão estabelecido pela igreja nas reuniões nas casas, participando semanalmente de parte ou de toda a reunião. Fazer visitas surpresas em todas as células (visita relâmpago) na última semana do mês. O supervisor não deve assumir a reunião, nem ministrar, apenas observar, se necessário, tomar nota e na reunião de discipulado um a um, tratar do assunto de maneira individual. Os líderes precisarão de ajuda para evangelizar, em visitas e o supervisor deve participar. Nas visitas é uma boa hora para conhecer a casa das pessoas e identificar novos anfitriões para a multiplicação.
No processo de treinamento, seus discípulos eram chamados para estar perto dele (Jesus), observá-lo, prestar atenção nele e ouvi-lo. Ele os ensinava pelo exemplo, pela palavra, por perguntas, por advertências, pelo incentivo, pela correção e por histórias. Sua palavra era a semente que ele plantava em suas mentes e em seus corações. Não é exagero dizer que Jesus criou líderes colocando neles a sua mente e mudando seu modo de pensar. (GONÇALVES, 2008, p.63).
É dever do supervisor prestar contas ao Supervisor de área com todos os formulários completos, fidelidade nas reuniões e treinamentos de liderança e observar se seu grupo está caminhando nesse trilho.
·         Supervisor de área – A multiplicação das células acontece naturalmente, e ao multiplicar o seu setor em três setores, o supervisor de setor passa a ser um supervisor de área, essa área não é necessariamente geográfica. As responsabilidades aumentam, pois além de discipular e treinar os supervisores de setor, precisa pastorear e supervisionar o seu campo semanalmente, mensalmente reunir-se com todos os supervisores de setor para alinhamento de resolução de problemas, visando o crescimento saudável das células. Visitas aos liderados e grupos de evangelismo, também estão entre suas prioridades. Semanalmente, presta contas ao Pastor de distrito com os relatórios. Fidelidade nas reuniões e treinamentos de liderança, observando se o seu grupo está caminhando nesse trilho. Gonçalves (2008, p.23), falando sobre liderança, afirma que “[...] o ministro que deseja que seu ministério continue crescendo, tem que manter-se educável. O líder precisa saber que quando para de crescer restringe seu potencial – especialmente o potencial de seu ministério”.
·      Pastor de Distrito – Não é, necessariamente, a ordenação pastoral, mas um reconhecimento por ter multiplicado e organizado as Células, desenvolvido o Setor com no mínimo quatro células e criado a Área com no mínimo três setores, desenvolvendo sua equipe de liderança e supervisão, comprovando seu chamado de liderança.
Não basta chegar na frente; é preciso seguir as normas pré-estabelecidas para ser coroado. Não seja desonesto, os que vivem em desonestidade, não receberão o mrêmio. “O atleta não é coroado se não lutar segundo as normas” (2 Tm 2.5). (GONÇALVES, 2008, p.17).
É responsável pelo treinamento de discipulado dos supervisores de área, semanalmente; pastorear e supervisionar todo o distrito; reunir-se com seus supervisores para alinhamento com a visão do pastor titular, garantindo o crescimento e multiplicação do Distrito de maneira saudável. Ser um exemplo na evangelização, visitas aos liderados, prestação de contas e frequência nos treinamentos de liderança e cultos de celebração.
·      Pastor de Região – Geralmente, é nesse nível que o líder é ordenado pastor, podendo ser convidado a trabalhar em tempo integral no ministério, mas para isso teve que seguir no trilho da liderança, multiplicou as Células. Compete ao pastor titular definir a quantidade mínima, para ser considerada uma célula, e máxima, momento da multiplicação da célula, segundo Carvalho (2010, p.169) a média é de dez pessoas por célula, geralmente variando entre 6 e 15 pessoas, um Setor é composto de 4 células, a Área por 12 células, para formar um Distrito são necessárias 36 células, e para que vire uma Região são necessários três distritos 108 células.
O sucesso no exercício da liderança sempre foi e será o resultado de muito trabalho. Sem trabalho não há colheita digna de festa. O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos (2 Tm 2.6). (GONÇALVES, 2008, p.17).
Com responsabilidades semelhantes ao do pastor de distrito, deve ser um exemplo na sociedade e ministerial, como a Bíblia ordena. Fiel no discipulado e prestar contas ao pastor titular sobre sua região. Deve estar disponível para trabalhar nos cultos e ministérios designados, supervisionar as células e reuni-se com os pastores distritais semanalmente, sendo fiel aos cultos de celebração e treinamentos de liderança.
·         Pastor de Rede – “[...] o desafio de cada pastor de região é chegar a mil células”, tornando-se um pastor de Rede. Com responsabilidade de treinar e discipular os pastores de região, distrito e líderes em potencial. Presta contas de sua vida pessoal e ministerial ao pastor principal, seguindo os critérios bíblicos. Fazem parte da diretoria da igreja, no serviço a Deus e a suas ovelhas, servindo de testemunhas de Cristo ao mundo. Gonçalves (2008, p.15) pontua que “[...] assim como o avião depende das duas asas para se manter no ar, o líder depende de carisma e de caráter para exercer uma liderança de sucesso e duradoura”.
·      Pastor Presidente – Para Carvalho (2010, p.169) “[...] o pastor presidente, de longe, é o que tem maior responsabilidade. Como um Moisés para o povo de Israel,” deve ensinar os estatutos do Senhor, fazendo o povo “[...] entender o caminho em que deve andar e a obra que devem fazer”. Cabe ao pastor presidente a ordenação de novos pastores, organização do ministério, tomar as decisão mais importantes juntamente com a diretoria, enviar obreiros e missionários ao campo. É o responsável por desenvolver e respaldar a nova estrutura da igreja, não mais alicerçada em ministérios, mas em formar novos líderes e ganhar as nações através dos pequenos grupos; é ele que valida o Trilho da Liderança ao ser fiel as reuniões e fazer valer os acordos oriundos da diretoria.
A falta de cortesia, o descaso e o desrespeito fazem que as pessoas se afastem do líder. Por não valorizar a importância das pequenas coisas, muitos líderes perderam a oportunidade de influenciar, marcar e motivar as pessoas, levando-as a produzir mais e com maior qualidade. (GONÇALVES, 2008, p.98).
Todos os níveis citados tem algumas responsabilidades em comum, que são as orações em favor dos liderados, da célula e da liderança, busca incessante do Espírito Santo, edificação do corpo de Cristo, atendimento social aos necessitados das células, visitas aos lares dos novos membros, comprometimento com a multiplicação da célula pelo evangelismo.
Carvalho (2010, p.172) conclui dizendo que os princípios da igreja primitiva não estão sendo valorizados na igreja do século XXl, que deixou de ser um organismo para tornar-se uma organização, e como tal, “[...] obedece princípios organizacionais”; enquanto que a igreja primitiva, sendo um organismo, um corpo, estava estabelecida em “[...] princípios funcionais de um organismo”. E que, se as maiores igrejas do mundo estão estruturadas em pequenos grupos, é mais que “[...] provado que as células são uma ferramenta que funciona”, pelo simples fato de que, “[...] o pastor, por mais competente que seja, não pode fazer todo o trabalho sozinho”. E o exclusivismo que separa a igreja entre clérigos e leigos, impede-a de crescer, enterrando talentos e paralisando a igreja local.
Ao contrário do que acontecia na Igreja Primitiva, onde os membros eram encorajados a desenvolverem seus dons no contexto de uma reunião pequena, tal monopolização do ministério tem impedido o desenvolvimento e crescimento da igreja. [...] todos os que foram dispersos iam por toda parte, ministrando de casa em casa. (CARVALHO, 2010, p. 172).
Disponibilizar a estrutura que temos para preparar os discípulos e edificar o corpo de Cristo, facilitando o exercício dos dons, a pregação da Palavra e a salvação de almas, imitando Jesus.
Diante do exposto, podemos concluir que, independente do modelo utilizado pela igreja, estruturada em departamentos, em células ou ainda a mistura de ambas, sempre haverão desafios a serem vencidos, confirmando as palavras de Jesus que afirmou em João 16.33 que “[...] no mundo tereis aflições”, mas que venceríamos as dificuldades. Logo, podemos afirmar que não há método errado de ganhar almas, errado é não ganhá-las, mas que levar uma pessoa a decidir por Jesus, não é fim, mas uma parte do processo de construção do caráter cristão, criando aderência dos novos convertidos após a decisão, pelo relato dos pastores citados nesse trabalho, os pequenos grupos tem o poder de fechar a porta da rua, quando envolve e cuida das pessoas. Desenvolvendo talentos e possibilitando que todos trabalhem em prol do Reino de Deus, e que a Bíblia está repleta de casos onde, para o bem do povo e do Reino de Deus, o trabalho foi desenvolvido em grupos pequenos.
Podemos concluir ainda que a transição de igrejas históricas é possível, desde que mude algumas características de exclusivismo ministerial, criando o discipulado, escola de líderes e dê oportunidades para que homens e mulheres exerçam o chamado de Cristo de pregar as nações. Reestruturando os cultos da igreja, ocupando o ministério na edificação do corpo de Cristo e diminuindo os cultos feitos para a “plateia”, investindo nos discípulos, semelhante ao que Jesus fazia. Atualmente, as igrejas investem muito tempo na multidão e muito pouco nos discípulos, Jesus, porém, fazia diferente. Ao olhar para a sociedade brasileira, que segundo o CENSO (2010) tem aproximadamente 44 milhões de evangélicos, que não conseguem refletir a vida de Cristo no dia a dia, percebemos que a igreja do século XXl precisa voltar a ser um organismo vivo e adaptável à sociedade moderna, sair da zona de conforto e responder proativamente a sociedade que está se deteriorando no pecado e corrupção. Como um corpo, que ao ser exigido, responde imediatamente, criando um calo, aumentando a musculatura, tendo ideias, projetando coisas novas, soluções criativas, é isso que um corpo faz, não fica estático diante das adversidades.
Se as maiores igrejas do mundo estão trabalhando com pequenos grupos há vários anos, e com resultados expressivos, não podemos descartar essa hipótese quando estivermos planejando os métodos de evangelismo de nossa igreja, mesmo que seja uma experiência em um campo novo, para avaliar a eficácia e adaptação à nossa cultura. A igreja foi chamada para ser a luz do mundo, mas virou uma organização engessada e presa em religiosidades e liturgias que afastam as pessoas umas das outras e de Deus, assemelhando-se ao sistema religioso dos tempos de Jesus. Precisamos voltar a praticar as primeiras obras, abandonar a doutrina de Balaão, não tolerar mais Jezabel e sua idolatria, nos arrepender de nossas obras imperfeitas, e mesmo com pouca força, guardar a Palavra de Deus e não negar o seu Santo nome (Apocalipse 2-3)..
O trabalho com células aproxima as pessoas, criando relacionamentos, e só quando temos confiança no outro, somos capazes de compartilhar nossas fraquezas, tentações, pecados e necessidades. O Apóstolo Paulo se considerava pai espiritual de seus discípulos, 2 Timóteo 2.1 por exemplo, mas atualmente, assim como acontece no mundo físico, os filhos estão sendo abandonados pelos pais. Igrejas e seus pregadores levam pessoas a se decidirem por Cristo, fazem com que venham a luz, mas logo as abandonam aos seus próprios cuidados. Não são acompanhadas de perto, como um recém-nascido. E o resultado desse abandono espiritual está em toda parte, pois segundo pesquisas publicadas pela revista Istoé, 35% dos candomblecistas dizem que eram evangélicos e que em seis anos o número de cristãos que não frequentam mais a igreja aumentaram mais de 400%, mesmo abrindo em média 14 mil igrejas por ano. Ou seja, não é a falta de igreja, mas falta de cuidado com os “recém-nascidos”, e isso a discipulado uma a um e os pequenos grupos tem potencial de nos ajudar.
Concluo expressando o meu sentimento de acolhimento e carinho que recebi em todas as igrejas que visitei, mas que nas igrejas que trabalham com os pequenos grupos esse trabalho é mais conciso, organizado e pessoal. Há uma preocupação real em servir o próximo e mostrar que a igreja não está ali somente para arrecadar dízimos e ofertas, mas para mudar a vida das pessoas e consequentemente a sociedade, vi nessas igrejas, o desejo de integrar aqueles que visitavam, mostrando interesse pelas pessoas, observei que os crentes abordavam os visitantes ao final do culto, se esforçando para criar vínculo e relacionamento, e são justamente os relacionamentos que fazem as pessoas estarem onde estão, segundo Huber (2011, p.123), e alerta que “[...] o segredo dos segredos: a intimidade com Jesus. Se você tiver intimidade com Jesus, o resto vem como consequência. O segredo é o relacionamento com ele. Respire a presença manifesta dele, e você fará discípulos de todas as nações, em nome de Jesus.” (2011, p.158).
Jesus nos deu instruções claras quanto à evangelizar e fazer discípulos, e uma ferramenta poderosa que está mudando cidades inteiras são as células.

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