PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO NO ENSINO: A BUSCA DE UM DESEJO
“O ato de planejar é um meio de clarear desejos, o que é um passo para o sucesso. Porém, o sucesso só virá com a execução eficiente do planejado. A avaliação é um recurso auxiliar da execução do planejado, tendo em vista o sucesso. Sem efetivo investimento na execução da ação, não há resultados positivos”. Cipriano Carlos Luckesi
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O
significado da entrega às metas
Agir em função de desejos
O ser humano
age em busca de algum resultado, seja econômico, social, material, espiritual,
financeiro, amoroso, político ou simplesmente se divertir. Age para suprir uma
carência, nem sempre consciente, explícita ou implícita. Se inconsciente, os
caminhos geralmente não são claros, apesar de poder chegar a termos
satisfatórios mesmo assim.
O ser humano precisa estabelecer metas
definidas, clareando o que deseja, para agir em função delas, do contrário não será
realizado, pois não sabe aonde quer chegar.
Ação sem desejo torna-se linear
Sem o desejo não há investimento na construção de
resultados, não há entrega. Sem a entrega não é possível uma construção
bem-sucedida.
A ausência do desejo manifesta-se na apatia,
não ocorre vibração, alegria e, por isso, também não ocorrem resultados significativos,
alegres e felizes.
Não é pela “vontade” que vamos construir
coisas. Da vontade decorre o esforço, mas não o prazer de ser, viver e agir.
Com o esforço da vontade se constrói resultados; porém, resultados mirrados, no
limite, sem paixão.
Se não há um desejo claro, que direcione nossa
ação, como poderemos construir alguma coisa satisfatória e como poderemos ser
ajudados?
O
significado da entrega ao trabalho
Objetivo desta discussão sobre o trabalho
Ainda
que hoje o trabalho seja visto como um peso, como algo do qual temos de nos
livrar, ele se constitui num tipo de ação que praticamos, natural e
socialmente, e com o qual realizamos o mundo e nos realizamos. A sua plenitude
depende de escolhermos metas e nos entregarmos a elas, integralmente. Talvez as
nossas insatisfações no trabalho dependam de nossa não entrega ao que estamos
fazendo. O trabalho será prazeroso e fonte de crescimento se for realizado como
meio de autoconhecimento e autodesenvolvimento.
Tarthang
Tulku, mestre budista, criador do Instituto Nyingma, Berkeley, EUA, escreveu
um livro intitulado O caminho da
habilidade, procurando desvendar o significado do trabalho na vida humana,
bem como clarear pontos que possam nos auxiliar a aprender a viver felizes. O
trabalho é mostrado como um centro de desenvolvimento de si mesmo e dos outros
e não somente como um meio econômico de sobrevivência. Citaremos trechos do
livro.
Insatisfação com o trabalho
“Para muitas pessoas, hoje em dia, o trabalho está perdendo o significado”. Na sociedade moderna, o trabalho caracteriza-se por ser uma
mercadoria, que barganhamos para obter meios econômicos de sobrevivência. Daí,
ter-se tornado um peso e não um processo de autoconhecimento.
O significado do trabalho
“O trabalho é um meio muito eficaz para aprendermos
a encontrar a profunda satisfação na vida. O trabalho pode (e deve) ser uma
fonte de crescimento, uma oportunidade para aprendermos mais sobre nós mesmos e
para desenvolvermos relacionamentos positivos e saudáveis. Se encararmos o
trabalho desta maneira, veremos que, realmente, não existe diferença alguma entre
dedicarmos energia e cuidado ao nosso trabalho e dedicarmos energia ao
desenvolvimento de nossa consciência e apreciação da vida”. Com ele aprendemos,
nos desenvolvemos, vivemos e sobrevivemos, o seu significado não pode passar
desapercebido.
Dificuldade de encontrar um novo modo de ser
“Mudar padrões estruturados no início da
vida é uma das lições mais difíceis de se aprender e de se ensinar. Geralmente,
acreditamos que os hábitos seguidos durante toda uma vida não possam ser
alterados e, por tanto, sentimos que somos limitados em certos aspectos. No
entanto, não existe realmente nenhuma limitação quanto ao que podemos realizar,
se apreciarmos, de verdade, todas as oportunidades que a vida nos oferece”. Ao
romper com nossas limitações autoimpostas, descobriremos habilidades
inimagináveis, ganhando consciência de nossas verdadeiras responsabilidades.
Trabalho como busca de satisfação
“Trabalhar é a resposta humana natural ao fato de estarmos vivos; é o nosso modo de participar do universo. Por meio do trabalho,
podemos aprender a usar nossa energia com sabedoria, de modo que todas as
nossas ações passem a ser frutíferas e enriquecedoras”. Ao considerar o
trabalho um meio e não um fim, entendemos que “contribuímos para a vida com a
nossa energia, investindo o nosso corpo, respiração e mente em atividades
criativas”.
O trabalho exige nossa integração
O trabalho faz uso de todos os componentes
do nosso ser, levando nossa mente, coração e sentidos a uma ação completa. “De
fato, trabalhar apenas o bastante para ir levando tornou-se a regra. A maioria
das pessoas não espera gostar do seu trabalho, muito menos executá-lo bem, pois
o trabalho é comumente considerado apenas como um meio de se chegar a um fim.
Qualquer que seja a nossa profissão, passamos a pensar no trabalho como uma
parte de nossas vidas que consome tempo, um dever que não pode ser evitado”.
Atuais motivações do trabalho
Com um incentivo suficientemente forte poderemos
trabalhar com afinco, mas em geral nossas motivações estão restritas à obtenção
de status, à aquisição de poder
pessoal e de bens particulares, à proteção dos interesses do nome e da família.
São motivações autocentradas, e elas criam dificuldades para o desenvolvimento
de nosso potencial humano. E nesse contexto, o trabalho, não deixa espaço para as
qualidades positivas de nossa natureza e alimenta comportamentos competitivos e
de manipulação.
“Há pessoas que, reagindo a essa situação,
optam por evitar o trabalho por completo.” Quem sabe acreditando buscar uma
atitude mais elevada, mas na verdade estamos limitando o nosso potencial ainda
mais. “Ao negarmos expressão à nossa energia por meio do trabalho, estamos
inconscientemente, nos furtando à oportunidade de realizar nossa natureza e
negando aos outros a contribuição única que poderíamos dar à sociedade”.
A vida exige uma entrega total
“A vida cobra um preço daqueles que têm a oferecer
menos do que a sua participação total. Perdemos o contato com as qualidades e
os valores humanos que emergem naturalmente de um engajamento pleno no trabalho
e na vida: integridade, honestidade, lealdade, responsabilidade e cooperação.
Sem a orientação que essas qualidades dão às nossas vidas, começamos a vaguear,
vítimas de um sentimento desconfortável de insatisfação”. Os valores e as
qualidades humanas que trazem harmonia e equilíbrio às nossas vidas, à
sociedade e ao mundo só serão aplicadas quando nosso coração e mente participar
plenamente da vida, e o trabalho nos dá essa oportunidade.
“Não podemos continuar ignorando os efeitos da
motivação egoísta e de comportamentos como a competição e a manipulação.
Necessitamos de uma nova filosofia de trabalho, baseada numa compreensão humana
mais ampla, no respeito por nós próprios e pelos outros, numa consciência das
qualidades e habilidades que geram paz no mundo: comunicação, cooperação e
responsabilidade”.
O significado do trabalho sadio
“Isso significa estarmos dispostos a encarar
o trabalho abertamente, enxergando nossas forças e fraquezas com honestidade,
realizando as mudanças que irão beneficiar nossas vidas”. Dedicando nossas
energias para criar uma melhor atitude frente ao trabalho e “desenvolvendo o
que é verdadeiramente valioso dentro de nós, poderemos tornar tudo na vida uma
experiência de prazer. As habilidades que aprendermos enquanto estivermos
trabalhando ditarão o tom do nosso crescimento e propiciarão os meios para
trazermos satisfação e significado a cada momento de nossas vidas” e de outras
pessoas.
O significado de trabalhar com habilidade
1 – “Tornarmo-nos cientes das realidades das
nossas dificuldades,” não apenas mentalmente, “mas por meio de uma observação
honesta de nós mesmos”.
2 – “Tomar uma firme resolução de mudar.” Quando entendermos e empreendermos ações para
mudar nossa realidade, poderemos compartilhar o aprendizado. “Esse compartilhar
pode ser dentre todas as experiências, a traz maior satisfação, pois há uma
alegria profunda e duradoura em vermos outras pessoas encontrarem os meios para
tornar suas vidas produtivas e preenchidas.”
3 – “Quando desenvolvemos nossas capacidades e
as compartilhamos com os outros, podemos apreciar profundamente o valor que
elas possuem. Essa apreciação profunda torna a vida realmente digna de ser
vivida, infundindo amor e alegria em todas as ações e experiências.”
“Ao aprender a empregar meios hábeis em tudo
aquilo que fizermos, poderemos transformar nossa existência diária numa fonte
de satisfação e realização que ultrapassa até mesmo nossos mais belos sonhos.”
Atenção plena.
Para trabalhar com habilidade, importa ter atenção plena nos próprios sentimentos. Nós aprendemos a trabalhar para sobreviver, mas é preciso mudar esse conceito, pois o trabalho faz parte da existência; constitui-nos, e, por isso, possibilita nosso permanente crescimento para a vida. Aprendemos que o trabalho é um peso, e que precisamos deixa-lo no fim do dia (expediente) e em algum momento da vida (aposentadoria), não aprendemos que é o meio pelo qual temos mais possibilidades de crescer interiormente. É muito significativo em termos de tempo, para que o desprezemos como uma ferramenta de autodesenvolvimento mental e emocional. Precisamos encará-lo com algo mais do que um mero meio de sobrevivência, mas como um canal de autoconhecimento e autodesenvolvimento.
Atenção plena significa descobrir o código do
desejo que libera a ação na fusão permanente de sentimentos e pensamentos.
Identificar nossas verdadeiras metas que nascem dos nossos desejos.
“Como poderemos retomar o contato com nossa
pessoa?” – pergunta Tarthang Tulku. “O que podemos fazer para nos tornarmos
genuinamente livres?” Ao olhar com clareza para o mais profundo do nosso
interior, criamos novas perspectivas que nos liberta para crescer. “Essa
clareza é o início do autoconhecimento e pode ser desenvolvida simplesmente
pela observação da atividade da nossa mente e do nosso corpo.”
“Basta estar ciente de cada pensamento seu ou
dos sentimentos que o acompanham. Você pode ficar sensível à maneira como suas
ações afetam seus pensamentos, seu corpo e seus sentidos. Ao fazer isso, reabre
o canal de comunicação que há entre seu corpo e sua mente, e ganha maior
consciência de quem você é, então se familiariza com a qualidade do seu ser
interior. Seu corpo e sua mente começam a apoiar-se mutuamente, imprimindo uma
qualidade vital a todos os seus esforços.
Entra, assim, num processo vivo e dinâmico de
aprendizagem sobre si mesmo, e o autoconhecimento que adquire realça tudo o que
faz.”
“Mantenha sua concentração em uma tarefa até
que esteja terminada; então encarregue-se de outra, e assim por diante. Então
verá que sua clareza e discernimento se aprofundarão e passarão, naturalmente,
a fazer parte de tudo aquilo que realiza.”
O primeiro passo para iniciar qualquer
movimento de transformação é o reconhecimento dos sentimentos em relação àquilo
que estamos fazendo. Após o reconhecimento, importa desenvolver um sentimento
de deixar fluir o nó ali presente. Ele necessita ser desfeito. Caso contrário,
mantém-se como um veneno fechado numa cápsula. No trabalho, será a mesma coisa.
Ele só fluirá bem se permitirmos que fluam os nós que nos amarram.
Planejamento em geral e planejamento do ensino
Planejamento
Planejamento implica o
estabelecimento de metas, ações e recursos necessários à produção de resultados
que sejam satisfatórios à vida pessoal e social, ou seja, à consecução dos
nossos desejos.
Necessidade è
Ação (planejada) è Resultados è
Satisfação
A necessidade traz em si a carência da
satisfação. É ela que nos move para a busca da sua satisfação. A necessidade é
uma carência, uma “falta”, que precisa ser preenchida. Os resultados são aquilo
que buscamos para satisfazer a carência.
A obtenção da satisfação da necessidade, que
está na origem de nossa ação, exige um planejamento; ou seja, o estabelecimento
do que de fato desejamos, assim como a definição dos meios de atingi-los. Contudo,
somente o planejamento é insuficiente; ele necessita de execução. A ação é o
meio pelo qual construímos os resultados, que podem nos satisfazer. Contudo,
não uma ação qualquer, mas a ação planejada.
Necessidade da atenção plena no planejamento
É importantíssimo dar plena atenção aos
sentimentos que perpassam nossas carências, nossos atos de planejar e nossos
atos de construir os resultados que estamos esperando.
Planejar com convicção de que estamos fazendo
o melhor para todos os envolvidos e afetados. O Evangelho de Jesus Cristo diz
que “onde está o seu coração, aí está o seu tesouro”. Uma atividade só terá
sucesso se o coração estiver lá fluido, leve, desejoso, e não sobre a pressão
da vontade.
Necessidades de conhecimentos na atividade de planejar
Para se exercitar a atividade de
planejar, ao lado da atenção plena é necessária a posse de conhecimentos
específicos, que possibilitem a melhor decisão sobre o que se pretende fazer e
sobre o modo de atingir aquilo que se pretende.
No caso do ensino-aprendizagem, o ato de
planejar exige de nós um conhecimento seguro sobre o que desejamos fazer com a
educação, quais seus valores e seus significados, conhecer o educando e
compreender sua inserção na sociedade e na história, desvendar os processos de
formação de seu caráter e seu desenvolvimento, conhecimentos seguros dos
conteúdos científicos. O planejamento é um modo de ordenar a ação, já os
conhecimentos darão suporte à ação que nos levará aos fins desejados.
O planejamento sem conhecimento será uma
fantasia; sem a entrega, uma peça morta, útil para rechear arquivos.
Planejamento da atividade pedagógica como atividade coletiva
A atividade de planejar é
um trabalho em equipe, o ato escolar de ensinar e aprender é coletivo. Os
alunos não trabalham isolados; atuam em conjunto. Os professores não agem
sozinhos, mas articulados com outros educadores e especialistas em educação.
Execução do planejado no ensino
O planejado necessita ser executado com as mesmas
habilidades: conhecimentos, entrega, ato coletivo. Os conhecimentos utilizados
no planejamento são os mesmos que devem, no cotidiano, traduzir-se em prática;
caso contrário, serão letras mortas.
Ao mesmo tempo, para que isso aconteça,
torna-se necessária a entrega ao desejo. É a ação com paixão. Sem a entrega à
atividade, todos os conhecimentos utilizados não terão vida, não serão
fertilizados pela emoção. Portanto a execução deve também ser coletiva.
Além disso, a ação precisa ser avaliada e
revista coletivamente, afim de que o seu “tônus” possa ser mantido ao longo do
tempo que durar a ação. O método da ação-reflexão-ação
é uma necessidade para a realização o mais próximo possível do desejado, como
meio de autodesenvolvimento.
Avaliação
Avaliação como ato subsidiário do processo de construção de resultados satisfatórios
A atividade de avaliar é um meio subsidiário da construção do resultado
satisfatório e do crescimento.
Em nossa casa, avaliamos o alimento que
estamos fazendo quando provamos seu sabor, sua rigidez, verificando se está “no
ponto” ou se necessita de mais algum ingrediente, de mais tempo de cozimento
etc. Na empresa (na vida, no casamento, na igreja) ocorre o
mesmo, ou deviria ocorrer. Nenhuma
empresa sobreviverá sem avaliação com consequente tomada de decisão, tendo em
vista seu melhor funcionamento e, por isso mesmo, sua melhor produtividade. A
avaliação tem por função subsidiar a construção de resultados satisfatórios.
Assim, planejamento e avaliação são atos que
estão a serviço da construção de resultados desejados. Enquanto o planejamento
traça previamente os caminhos, a avaliação subsidia os redirecionamentos que
venha se fazer necessários no percurso da ação.
Avaliação da aprendizagem
Em decorrência de padrões histórico-sociais a avaliação do
ensino assumiu uma prática de “provas e exames”; o que gerou um desvio no uso
da avaliação. Em vez de ser utilizada para a construção de resultados satisfatórios,
tornou-se um meio para classificar os educandos e decidir sobre os seus
destinos. Em consequência, teve agregado a si um significado de poder, que
decide sobre a vida do educando, e não um meio de auxilia-lo no crescimento.
A avaliação da aprendizagem necessita, para
cumprir o seu verdadeiro significado, assumir a função de subsidiar a
construção da aprendizagem bem-sucedida. Assumindo o papel de auxiliar o
crescimento e não de excluir ou classificar pessoas.
Avaliação e entrega
O ato de avaliar também exige a entrega, entrega à construção da
experiência satisfatória do educando. A entrega ao desejo de que o educando
cresça e se desenvolva. O educador tem a tarefa de clarear para si e para o
educando as exigências do crescimento. Ninguém cresce sem ação e a ação contém
dentro de si uma disciplina. A avaliação é uma forma de tomar consciência sobre
o significado da ação na construção do desejo que lhe deu origem.
Só a entrega à disciplina do ato permite uma
cura, ou seja, a construção satisfatória dos resultados desejados.
Concluindo
Planejamento, execução e avaliação são
recursos da busca de um desejo. Se queremos estar entregues a ele, a fim de que
possamos construir os resultados satisfatórios, auxiliando o desenvolvimento
dos educandos, ao mesmo tempo que processamos nosso auto crescimento.
Fonte: Resumo do capítulo dez do livro:
Luckesi, Cipriano Carlos. Avaliação da
aprendizagem escolar: estudos e proposições. Planejamento, execução e avaliação
no ensino: a busca de um desejo. 22 ed. São Paulo: Cortez, 2011.